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Missão Integral - Política e Amigos

Um desabafo do interprete da Teologia da Missão Integral

Sei que o texto é longo, mas é por uma boa causa.

Existe uma Teologia da Missão Integral elaborada pelos seus principais pensadores, Carlos René Padilla, Pedro Arana e Samuel Escobar. Esta teologia nasce em um encontro em Cochabamba em 1970 na formação da Fraternidade Teológica Latino-Americana que consistia em ter um pensamento contrário ao pensamento norte-americano, que pensasse a partir deste continente próxima das bases protestantes, as escrituras como palavra de Deus, a salvação pela graça, o sacerdócio de todos os cristãos e a natureza e missão da igreja. Mas com uma ênfase em responder uma pergunta: Como um continente denominado cristão pode haver tanta injustiça? Ou seja, o que o protestante latino-americano tem a dizer sobre a injustiça social?

A partir deste encontro essa teologia se fundamentou em dizer que não adianta anunciar um evangelho sem praticar o bem, ou seja, o anuncio do evangelho deve vir carregado de responsabilidade social. Lutando para que os vulneráveis da sociedade pudessem obter uma vida digna e não abastada. Com isso, encontrou muita resistência por onde passou e encontra até hoje. As críticas fez com que os pensadores não desistissem deste pensamento e desta forma, se internacionalizou no Encontro de Lausanne, 1974.

No Brasil, foram implantadas em vários lugares as fraternidades teológicas, mas este pensamento não se deteve nestas bases de fomento, surgiram outras formas de se pensar e desenvolver essa teologia, algumas dissertações e teses foram elaboradas em um curto espaço de tempo e em várias universidades, até mesmo algumas pessoas aplicam e nem sabem que estão aplicando a TMI. Desta forma, apesar desta teologia ser nova e muito criticada pelos conservadores, a mesma está se solidificando neste país.

No entanto, ainda existem entre os evangélicos brasileiros vários equívocos sobre a Teologia da Missão Integral. Um desses equívocos é pensar que todos os interpretes dessa teologia apoiaram e até hoje apoiam a política de esquerda, ou seja, o partido dos trabalhadores. Essas afirmações – acredito que não seja uma investida de má fé ou até mesmo a afirmação de pessoas acomodadas há muito tempo no poder e estejam querendo minar ou até mesmo acabar com um pensamento latino-americano – são feitas sem conhecimento. Diante dessa falácia afirmo que sou um dos interpretes da TMI no Brasil, (sem me gloriar por isso, pois foi opção minha, por este pensamento se aproximar da minha prática e tive a oportunidade de me aprofundar neste pensamento) e, também apoiei o PT na primeira eleição para presidente da república. No entanto, logo, no primeiro discurso desse ex-presidente me decepcionei, e assim, me afastei desse partido. Quero, afirmar também que após está eleição nunca mais votei nos candidatos petistas.

Afirmo aqui também que as reuniões, que participei junto com outros pastores e amigos, denominada “Missão na Integra” que era um encontro de amigos que pensavam em ajudar a igreja brasileira a sair de sua estagnação, também não é a última palavra com relação a este pensamento (TMI), pois em nosso meio havia muitas diferenças, mas com respeito e, isso, transparecia nas plenárias e nas pregações. Sem duvida, sinto que o momento histórico para estes encontros não acabou e gostaria que voltasse, pois deixamos muitos pastores novos, membros e organizações desamparados. Isso me entristece.

Além disso, quero afirmar que apesar de um dos meus amigos de ministério – Ariovaldo Ramos – e, também interprete da TMI, ter convicção de uma opção de política partidária diferente da minha, tenho a convicção que não devo eliminá-lo do rol de meus amigos, por vários motivos. Primeiro, é que nestes anos todos que o conheço sempre morou no mesmo local, em um apartamento pequeno na periferia de São Paulo, nunca deixou de pregar o evangelho, sempre se acomodou as coisas simples, podendo viver de uma forma abastada e nunca declarou sua opção de política partidária no púlpito de qualquer igreja, somente quando era questionado, não mentia pelo seu apresso pelo partido que defendeu fora dos muros protestantes. Segundo, que todas as pessoas em nosso país têm o direito de se expressar, sendo de direita ou de esquerda na política.

Terceiro, muitos estão tentando eliminá-lo a qualquer custo e sem avaliação prévia, se esquecendo dos benefícios que este homem já trouxe para a igreja brasileira. Parece que a história volta a se repetir entre os evangélicos protestantes brasileiros, todos que de alguma maneira erraram ou são interpretados de uma maneira errada, ou até mesmo optaram de maneira equivocada, literalmente são eliminados das agendas das maiorias das igrejas locais, ou seja, a história dessa pessoa ou o que a mesma fez não importa. Com isso, é considerado um mal e deve ser expurgado da comunidade evangélica. A critica para uma correção é sempre bem vinda e não a eliminação como é costume na repartição evangélica.

No entanto, é isso que o Cristo nos ensina na caminhada? Será que seu irmão não pode pensar diferente, ser diferente ou errar pela convicção? Se mesmo assim insistem em desconsiderá-lo. Se o mesmo é inimigo. O que o nosso Senhor Jesus Cristo diz a respeito de nossos inimigos? O amor a este adversário acabou?

Quarto, parece que existe, na sua grande maioria, políticos honestos no Brasil, nem mesmo a bancada dita evangélica, na sua grande maioria, são honestos. Será que o voto no menos pior foi a melhor opção? Mas para quem este presidente eleito é a melhor opção? É verdade também e, quero deixar claro, que para mim o adversário do presidente eleito, também não seria a melhor opção, ou seja, o brasileiro sempre é levado pela ilusão de esperar a solução de um messias, que irá resolver todos os problemas de seu país. Para que não haja duvida neste texto, oro para que Deus use esse homem, que não fez absolutamente nada em seus 28 anos de mandato e apoiou pessoas como Eduardo Cunha e Renan Calheiro, além disso, foi apoiado por homens ditos de Deus como na sua maioria tele-evangelistas, para trazer justiça para o nosso país, sei que Deus é poderoso para fazer, apesar de não acreditar nessa pessoa. Também é verdade que a esquerda teve seu momento para resolver os problemas da sociedade sofrida e se corrompeu. Está claro, também, que estamos sem opção política. A Democracia morreu com ela a justiça social, a ética e os pobres morreram!!! O que fazer diante dessa sepultura? Precisamos ressuscitar a ética na sociedade brasileira urgente e que comece pela igreja assumindo seu papel de profeta no meio do caos, trabalhando pela justiça social.

Por essas causas acima continuarei sendo amigo daqueles que lutam de alguma forma pela justiça, mesmo que de uma forma diferente da minha e por não ter opção nesta política, prefiro estar do lado de um evangelho da reconciliação, do amor ao próximo, mesmo que seja meu inimigo, e de trabalhar pela paz da sociedade, como o Senhor Jesus nos ensinou. Não se engane essa polarização pode ser uma forma de manipulação dos poderosos para continuarem explorando os vulneráveis. Sejamos amigos do bem, mesmo havendo diferenças!!!

Paulo Cappelletti